sexta-feira, 24 de julho de 2009

A Destruição de Brasília

No início eram só revoltas. Mas revoltas particulares, cada um engolindo sozinho as notícias de jornais, acumulando seu próprio stress, alguns suas próprias úlceras, enquanto outros liberavam sua intolerância no outro. O caos começava a se instalar. A segurança, a saúde e a educação estavam mais do que no lixo. As escolas não funcionavam, não havia professores suficientes; os poucos médicos humanitários dos hospitais públicos já não davam mais conta de tamanha demanda. A população foi aos poucos diminuindo, a mortalidade aumentando. Tanto acidental quanto provocada por homicídios, resultado da lei do mais forte. O dinheiro público se concentrava e se esvaía em Brasília, onde os políticos mais que descaradamente embolsavam o máximo que podiam, já que a impunidade era a palavra da moda. Ninguém fazia nada. E esse mesmo ninguém já não mais aguentava. Jornalistas, empresários, executivos, artistas, pessoas influentes, sem falar no povo que já não tinha mais nada, dentro do pouco que nunca teve. E então, na surdina, começou a preparação. Emails eram trocados entre a população. Notas figurativas nos jornais acionavam determinada classe, as empresas informavam seus funcionários, os sindicatos esclareciam para seus membros e paulatinamente tudo foi se organizando. Empresas de transportes aéreo e terrestre organizaram a multidão, todos em prol de um só objetivo. Foi no dia 7 de setembro de 2022. Duzentos anos após a conquista da independência. Milhões de pessoas chegando em Brasília. Nas mãos, ferramentas de todos os tipos e tamanhos. Os mais organizados chegaram com tratores e máquinas grandes de destruição e implosão. Mais do que organizado, a intenção não era ferir ninguém, muito embora o presidente e alguns membros do congresso e do senado não passaram impunes e a população, não contendo o ódio acumulado em anos, acabou por linchá-los. Mas ninguém havia de ser punido. Não havia testemunhas. Não havia polícia que segurasse a indignação do povo. Bastaram os três dias do feriado. Não sobrou pedra sobre pedra. Não sobrou espaço que permitisse a reconstrução. A faixa presidencial foi colocada num avião e enviada para o Rio de Janeiro, onde, nas portas do Palácio Guanabara, outra multidão a esperava com as boas vindas da nova velha Capital Federal. Perto do povo. Junto com o povo. Onde o povo está. E a política brasileira nunca mais foi a mesma.