quarta-feira, 28 de abril de 2010

O mau humor e a rotina


Acorda. Abre a persiana. Abre a janela. Arruma a cama. Higiene. Troca o rolo de papel higiênico. Detesto trocar o rolo de papel higiênico.
Faz café, toma café. Lava a louça.
Pega metrô, sair na Uruguaiana a qualquer hora do dia é massacrante. Se está sol o calor é insuportável, se está chovendo, está alagado e fedido.
No escritório, abre a persiana, liga o ar e o computador. Troca o rolo de papel higiênico. Detesto trocar o rolo de papel higiênico.
O trabalho, os mesmos problemas. Corre atrás de cliente. Cobra ações dos fornecedores. Problema com a Net, com a Amil, com a Claro. Com todos os prestadores de serviços que para serem ruins ainda precisam melhorar. Bancos que aumentam sua tarifa à revelia, sem aumentar a qualidade dos serviços. E já não há paciência para os mesmos problemas, repetidos há anos. Desliga o ar e o computador. Fecha a persiana.
Metrô sentido zona sul. Muito melhor. Muita dó dos que vão para Zona Norte. Detesto sentir muita dó, porque é sinal que tem muita gente sofrendo.
Põe roupa para lavar.
No jornal, só desgraça. Gente morrendo, gente matando, gente torturando crianças, gerente de banco informando ladrões, políticos ladrões informando que estão aí, prontos para eleições.
Estende a roupa. Detesto estender a roupa. Jantar e mais louça.
Higiene.
Ainda bem que ainda tem papel higiênico.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Por que, diabos!!, nós amamos futebol??


Eu acho que está no sangue! Pelo menos no nosso, digo, da minha faixa dos 30, nossos pais e - claro - todos os que vêm depois disso. Já escrevi outras vezes sobre isso, seja sobre paixão antiga, discussão de torcedores ou ficção. Porque eu gosto e muito.
Porque sinceramente não há motivos reais e concretos para isso.
O que aconteceu na copa de 1998 com o Ronaldo, cuja "convulsão" é assunto proibido até hoje, o Roberto Carlos puxando a meia e o Brasil entregando de bandeja a copa para a França decepcionou o mundo, imagina nós, brasileiros. No entanto continuamos lá, parando o Brasil em dia de jogo, acordando de madruga para assistir aos jogos do outro lado do mundo, torcendo para o Ronaldinho Gaúcho ser convocado, Kaká melhorar e Messi surtar.
A vergonha que o 'os coxa' passaram com a demolição do Couto Pereira no fim do ano passado, com gente morrendo e o próprio segurança do estádio enfiando porrada na galera deveria ter sido para nunca mais ver futebol. No entanto, eles continuam lá, indo no mesmo estádio que demonstrou segurança mínima, apoiando o time que perdeu de burrice e falta de controle.
Sem contar as falhas dos árbitros, o que não consigo admitir, pois com tamanha tecnologia, por que, raios!, ele não pode ter acesso a uma TV no campo para dirimir dúvidas e julgar com precisão? Porque sempre tem alguém ganhando com isso. No entanto, continuamos lá, firmes e fortes, assistindo tudo, pagando a maior grana para os 'elencos' dos nossos times de coração.
Estou meio indignada com isso porque o Adriano não está se sentindo bem - coitadinho! Deve estar de TPM!! O médico já liberou, o Andrade o escalou, mas ele prefere não jogar, num jogo decisivo para o Mengão continuar na Libertadores. A mesma que entregou de mãos beijadas no ano passado, após ser tri no estadual.
O Elenco do Flamengo custa R$3,1 milhões por mês. Alguém faz idéia do que seja isso?? Eu não. O cara tem o maior salário do Brasil (não sei, talvez menos que Ronaldo), mas é mais do que bem pago, pode ir na Chatuba quando quer, não ir aos treinos quando quer, mas se sente malzinho num jogo que o time precisa dele!! Chá de louro e bolsa de água quente na coliquinha, meu amigo!! Eu tô aqui, ralando, correndo atrás do preju, fazendo pós graduação e sabe quando vou ter o salário dele?? Também não sei e não vou dizer 'nunca', afinal estou me preparando...
Mas enfim, indignada ou não, hoje serei uma de milhões que estarão lá, na frente da TV, torcendo por esta paixão sem explicação, sem bom senso e sem vergonha na cara!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

"RIO, mas também posso CHOVER"

(de Macalé)
Estou emocionada.
Emocionada de chorar mesmo.
Acabei de voltar do posto da Guarda Municipal do Rio, em Botafogo, onde fui deixar minha pequena contribuição para essa enorme tragédia que minha cidade - adotada de coração - está passando.
Vou deixar de lado meu tom crítico, irônico, não vou falar de política, dos responsáveis, nem nada disso.
Quero só deixar registrado esse lado emocionante que o povo guarda lá no fundo. Ele pode ser mal educado, pode ser ignorante, pode ele mesmo jogar lixo no chão e construir casa nas encostas proibidas dos morros. Mas quando um desastre acontece, ele é o primeiro que está lá. Junto, ajudando.
Eu me senti pequena hoje. Ontem, limpei meu guarda roupa, tirei coisas que eu gostava e até usava, mas não precisava realmente. Peguei todos os edredons e cobertores que estavam sobrando e levei tudo. Minha meta de alimentos não perecíveis foi o valor de um sapato que comprei semana passada. Duzentos reais. Eu me senti pequena, porque como posso comprar um sapato de duzentos reais se, com um pouco menos que isso, eu comprei:

- 20 kg de arroz
- 10 kg de feijão
- 10 kg de açúcar
- 5 kg de farinha de mandioca
- 12 litros de leite
- 5 pacotes de pão
- 4 pacotes com 8, de papel higiênico
- 6 litros de óleo
- 2 kg de Nescau

Eu não estou querendo fazer propaganda do que eu fiz. Não tenho nem motivos para isso, não sou candidata a nada nesse mundo, a não ser a ser feliz. Quero é mostrar para as pessoas, como nossa noção de dinheiro às vezes se atrapalha. Não custa nada, pegar cem reais que um casal gasta num bom jantar e revertê-lo. Se todos fizerem a sua parte para ajudar o sofrimento alheio, esse sofrimento diminui. E SEMPRE, não somente quando uma tragédia dessa magnitude se abate a pessoas ao lado de onde moramos.
A natureza está se revoltando, e não é só com a baixada e a Zona Norte. Não há como saber o que ainda está por vir.
É muito triste perder as coisas conquistadas com o suor do trabalho. É muito feliz ver que existem pessoas que se dedicam e fazem esse mundo cão valer a pena.