terça-feira, 15 de outubro de 2013

#souprofessor

Mas não exerço.
Lembro que, quando minha mãe conseguiu mudar a gente de escola, de uma pública para uma particular, ela nos instruiu para escolhermos um curso técnico - não podíamos fazer o segundo grau básico - tinha que ser técnico, pois caso não conseguíssemos fazer faculdade, assim como eles, nós já teríamos uma profissão. Escolhi magistério. Adorava brincar de escolinha, escrever, ensinar, falar inglês. "Quero ser professora de inglês, que nem o Teacher." Saudades do Teacher. Foi meu primeiro amor platônico por um professor e ele realmente era lindo!
Em 1987, na sexta série, fui para o Sagrado, eu queria fazer Letras, e lá concluí o magistério em 1992 com muito louvor e menções honrosas. Virando a esquina do curso, entretanto, mudei para biologia. Eu podia me ver ensinando e pesquisando. Porém com as dificuldades da vida de meus pais, vieram as retaliações. "Filha, vai ser professora? Tem certeza? Olha como é difícil, como não muda nada, professor é miserável, trabalha muito, ganha pouco, tem muita responsabilidade, etc etc...faz biologia não, se gosta tanto dessa área, faz medicina". Lembro que meu terceiro ano do magistério foi a maior correria da vida. Escola pela manhã, estágio de magistério três vezes por semana à tarde, e para completar a minha indecisão, resolvi fazer um curso de instrumentação cirúrgica à noite, duas vezes por semana e mais estágio deste curso, à tarde, também duas vezes por semana. Eu queria vivenciar a rotina de um hospital. E me coloquei entre a cruz e a espada. No caminho para fazer as duas coisas que achava que poderia ser. Professora ou médica.
É claro que eu não passei no vestibular em medicina. Recém concluído um curso de magistério, não havia base para levantar meu score na Federal (UFPR). Porém, com esse mesmo score, eu teria passado (e bem!) tanto em Letras, quanto em Biologia. Lamentos à parte, sem faculdade, fui procurar emprego. 
Nas minhas duas primeiras entrevistas de trabalho, fui contratada. Para ambos. Um era para professor de Inglês em um cursinho no centro de Curitiba. O outro, para assistente administrativo numa empresa de importação de veículos. Adivinhe qual foi minha opção? Era 1993 e o governo Collor havia aberto todas as fronteiras para o comércio exterior no Brasil. Área fascinante, salário melhor. Passado o ano de trabalho + cursinho, prestei vestibular novamente. Para Comércio Exterior.  
Resumindo, fiz minha carreira toda até hoje em comércio internacional. E não me arrependo. Tive experiência incríveis, ultrapassei fronteiras, falei até com o Sri-Lanka (!!) pelo telefone, viajei muito a trabalho (e essa parte eu adoro!). Mas sentia que deveria voltar para uma vocação que sempre me acompanhou. E então, em 2004 prestei vestibular para Letras Português/Inglês. Casei, me mudei pro Rio e me formei em 2009. Amei o curso e amo ter a possibilidade de (re)ingressar nessa carreira difícil e bela.
Eu aproveitei e ainda aproveito minha vida de executiva, aprendi muitas coisas, ampliei meus horizontes, entendi o mundo dos negócios. Mas ainda penso em retomar o caminho e me dedicar a reconstruir um mundo melhor. Porque esta é a principal função do professor. Formar pessoas melhores.
E este depoimento tem somente a função de ilustrar esta certa frustração de não ter optado por esta carreira importantíssima, pelos simples fato de que ela é menosprezada por um país ignorante, que quer crescer, tem dinheiro e condições, mas tem medo de fazer seu cidadão ser cidadão. Tem medo de investir numa educação que possa realmente TRANSFORMAR. 
Minha culpa? Certamente, a vida é feita de escolhas. Porém, levar bombas de borracha e gás de pimenta na cara realmente não seria o que minha mãe sonhou para mim. E jamais o que um país sério teria sonhado para seus educadores.
20 anos depois, retomo a luta e continuo  na esperança de ainda poder exercer, com dignidade, respeito e salário justo.
Feliz dia do professor!