segunda-feira, 9 de setembro de 2013

A resposta do sonho


Minha querida amiga, sinta-se desculpada, embora você não precise pedir desculpas. Sou eu quem tem que se desculpar e pedir seu perdão.

Desculpe-me por ter ficado zangada com a ignorância e falta de tolerância da sua mãe, totalmente equivocada em relação à nossa amizade. Perdão por não ter insistido nela e ter me calado perante essa situação. Me afastei de você e perdi grande parte da tua história de vida.

Desculpe-me por não ter me dedicado às minhas aulas de guitarra. A sua voz doce e rouca era nata, o meu jeito com as cordas é que nunca teve muito progresso. Como poderia estar nossa banda, a Medula Óssea, se a tivéssemos levado um pouco mais a sério? Claro que nunca saberemos, mas saiba que me orgulho muito da nossa brincadeira, tentativa ingênua de colocar música em nossas vozes adolescentes inquietas.

Desculpe-me por não ter insistido para que você ficasse mais tempo naquele último dia em que nos vimos, na minha última visita a Curitiba, quando você foi embora, furiosa com a multa que a periquita-mal-amada te deu. Desculpe-me por não ter oferecido minha carteira de habilitação, para que você não perdesse a sua. Obrigada por ter ido se despedir de mim.

Desculpe-me por não dar atenção aos seus apelos poéticos, reflexos da sua dor, expostos claramente em sua publicações e por te julgar, em silêncio, por esta demasiada exposição, pedido claro de socorro pelo teu sofrimento.

Desculpe-me por não te socorrer, não te dar o apoio necessário para que você não tomasse essa medida extrema para se ver livre dessa dor dilacerante que é a depressão. Desculpe não estar com você em todos estes momentos.

Se hoje eu choro pela tua falta, minha amiga, é porque você foi muito importante para mim e certamente me influenciou no que sou hoje. Choro mais por imaginar o tamanho da tua dor e lamento não ter podido te ajudar. Não precisa se desculpar, vou superar e nunca, jamais colocarei você naquela nossa "shitlist".

Espero que fique em paz, descanse em paz, encontre finalmente a paz que você não encontrou por aqui.


Sua voz quando ela canta
me lembra um pássaro.
Mas não um pássaro cantando,
lembra um pássaro voando.
Ferreira Gullar