Fiquei realmente triste com o resultado das eleições (não, não há ódio ao
Aécio que explique a conivência com a roubalheira geral.), mas ainda mais em
perceber que estamos retrocedendo no que se refere ao respeito mútuo, a ponto de
ver tantas agressões, tantas barbaridades, preconceito e o pior, ódio. Estamos
todos à flor da pele.
Estamos vindo de uma onda de ódio que explodiu nas manifestações do ano
passado, passou pela constatação geral da nação de que fomos, muito, mas muito
roubados mesmo com a organização da Copa, e depois o 7x1. Foi um impulso aos
ânimos acirrados das eleições. Estamos todos sem paciência, cansados, com medo
da violência, de não termos o salário digno que nos sustente. E como sempre,
tendemos a ver somente o que os outros fazem de errado. Precisamos de tentar
entender o que os leva a determinadas atitudes. Precisamos de mais
empatia.
Fiquei estarrecida com a força do movimento "O Sul é o meu país", que prega
o separatismo dos estados do Sul. Eu sou de Curitiba, não quero o separatismo.
Em primeiro lugar todos aceitamos tudo de bom que as regiões alheias
oferecem. Suas praias, suas boas comidas, cultura riquíssima e tradições. Afirmar
que a Amazônia é o pulmão do planeta e que o Rio Amazonas é o maior rio do mundo
é de encher nossa vida de alegria, principalmente quando descobrimos isso lá na
escola, nas aulas de Geografia. Mas a gente cresce e esquece de algumas
sensações. E daí para botar a culpa nos outros é um pulo automático.
A culpa do resultado das eleições é do próprio governo que não dá educação.
Dá comida. Qual é, afinal, o grande mérito de que quem nasce no Sul do país? Sorte. Você não
nasce em algum lugar porque sabe e escolhe que ali é melhor. Pura sorte. Você não escolhe se vai ser um Whathefukinhowski ou só mais um Silva que a estrela não brilha. E qual
o demérito de ser mais um e nascer no mais agreste dos sertões? Lutar a vida inteira por
condições melhores e se a migração para o sul do país aconteceu, foi em busca do
que quem nasceu ali teve de sobra, a vida inteira e de graça. Por pura sorte.
Mas agora não quer dividir. Precisamos de empatia. De nos colocar mais no lugar
dos outros. Para um povo que sofre o diabo com a seca e todas as limitações
naturais que sua região impõe, ter comida para alimentar sua família é uma
dádiva sim, e louve-se quem fez isso. Se o governo usa o ponto mais fraco de um
povo para manipulá-lo, ele (o povo) é vítima, não algoz.
Dividir o país em dois nunca foi nem nunca será a solução. O Sul tem uma
excelente movimentação econômica, mas diretamente influenciada pelas outras
regiões. Sem petróleo, com pouca variedade de matérias primas, seus bons portos são muito mais
utilizados pelos outros estados que não tem "vista" para o mar, do que pelos
próprios. Sua principal movimentação é a soja, com grande concentração de
produção no Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e São Paulo. A Bunge, a maior
franqueada do Porto de São Francisco do Sul fica... Em São Paulo. O Porto de Rio
Grande se fortaleceu quando ganhou o estaleiro para a construção de navios e
plataformas da Petrobras, depois do escândalo de corrupção do Estaleiro Atlântico Sul em
Pernambuco ( = estado do Lula). E então a Dilma transferiu o saldo destituído de
PE para.... seu amado Rio Grande, que agora quer devolvê-lo, portanto? O que
seria do Chuí, se não fosse o Oiapoque? Iriam falar de... Cornélio Procópio ao Chuí?
Essa grandeza do Sul está diretamente ligada ao fato de o Sul ser Brasil. E mesmo assim, não é para tanto. A sua participação no PIB
nacional é de 16,2%. A do Nordeste (em crescimento) é de 13,4. Considerando as margens de erro, as regiões estão tecnicamente empatadas em sua colaboração. Será que o Sul realmente conseguiria se bancar sozinho? Porque quem banca o país, como um todo,
é o Sudeste (55,4%), mas que não fala em separatismo. Para quem pensou em São
Paulo, imaginem um dia sem nordestinos. A cidade iria parar. Os paulistas estão
muito ocupados para fazer o que os nordestinos fazem pela cidade.
Vejam, como um exemplo o modelo pronto dos EUA, país continental, maior que o Brasil,
administrado como federações, com leis distintas e voto distrital que
influenciam diretamente a redução da máquina governamental e consequentemente
redução de deficit público e maior facilidade de isolamento e combate à
corrupção. Eles são maiores que nós, como conseguem? Nós também temos que
conseguir. Unidos.
Keith Haring |
Precisamos de empatia, de nos colocar no lugar do outro e tentar entender o motivo de certas atitudes. Isso vale muito no nosso dia a dia, quando os outros nos
irritam. Está muito difícil para todo mundo, não só para mim. Temos que lutar
juntos, pelo bem da nação. Cadê aquele hino nacional cantado à Capela em todas
as partes do Brasil, aliviado pelo grito final de Pátria Amada, Brasil?
Temos que unir, ajudar, colaborar, sorrir, amar mais. Temos que separar,
hostilizar, destruir e odiar menos, muito menos. E se já temos um empate
técnico, agora precisamos de mais empatia. Nem que seja técnica. Mas separatismo
não.