sábado, 8 de novembro de 2014

Empatia técnica

Fiquei realmente triste com o resultado das eleições (não, não há ódio ao Aécio que explique a conivência com a roubalheira geral.), mas ainda mais em perceber que estamos retrocedendo no que se refere ao respeito mútuo, a ponto de ver tantas agressões, tantas barbaridades, preconceito e o pior, ódio. Estamos todos à flor da pele. 

Estamos vindo de uma onda de ódio que explodiu nas manifestações do ano passado, passou pela constatação geral da nação de que fomos, muito, mas muito roubados mesmo com a organização da Copa, e depois o 7x1. Foi um impulso aos ânimos acirrados das eleições. Estamos todos sem paciência, cansados, com medo da violência, de não termos o salário digno que nos sustente. E como sempre, tendemos a ver somente o que os outros fazem de errado. Precisamos de tentar entender o que os leva a determinadas atitudes. Precisamos de mais empatia.

Fiquei estarrecida com a força do movimento "O Sul é o meu país", que prega o separatismo dos estados do Sul. Eu sou de Curitiba, não quero o separatismo.

Em primeiro lugar todos aceitamos tudo de bom que as regiões alheias oferecem. Suas praias, suas boas comidas, cultura riquíssima e tradições. Afirmar que a Amazônia é o pulmão do planeta e que o Rio Amazonas é o maior rio do mundo é de encher nossa vida de alegria, principalmente quando descobrimos isso lá na escola, nas aulas de Geografia. Mas a gente cresce e esquece de algumas sensações. E daí para botar a culpa nos outros é um pulo automático.

A culpa do resultado das eleições é do próprio governo que não dá educação. Dá comida. Qual é, afinal, o grande mérito de que quem nasce no Sul do país? Sorte. Você não nasce em algum lugar porque sabe e escolhe que ali é melhor. Pura sorte. Você não escolhe se vai ser um Whathefukinhowski ou só mais um Silva que a estrela não brilha. E qual o demérito de ser mais um e nascer no mais agreste dos sertões? Lutar a vida inteira por condições melhores e se a migração para o sul do país aconteceu, foi em busca do que quem nasceu ali teve de sobra, a vida inteira e de graça. Por pura sorte. Mas agora não quer dividir. Precisamos de empatia. De nos colocar mais no lugar dos outros. Para um povo que sofre o diabo com a seca e todas as limitações naturais que sua região impõe, ter comida para alimentar sua família é uma dádiva sim, e louve-se quem fez isso. Se o governo usa o ponto mais fraco de um povo para manipulá-lo, ele (o povo) é vítima, não algoz. 

Dividir o país em dois nunca foi nem nunca será a solução. O Sul tem uma excelente movimentação econômica, mas diretamente influenciada pelas outras regiões. Sem petróleo, com pouca variedade de matérias primas, seus bons portos são muito mais utilizados pelos outros estados que não tem "vista" para o mar, do que pelos próprios. Sua principal movimentação é a soja, com grande concentração de produção no Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e São Paulo. A Bunge, a maior franqueada do Porto de São Francisco do Sul fica... Em São Paulo. O Porto de Rio Grande se fortaleceu quando ganhou o estaleiro para a construção de navios e plataformas da Petrobras, depois do escândalo de corrupção do Estaleiro Atlântico Sul em Pernambuco ( = estado do Lula). E então a Dilma transferiu o saldo destituído de PE para.... seu amado Rio Grande, que agora quer devolvê-lo, portanto? O que seria do Chuí, se não fosse o Oiapoque? Iriam falar de... Cornélio Procópio ao Chuí?

Essa grandeza do Sul está diretamente ligada ao fato de o Sul ser Brasil. E mesmo assim, não é para tanto. A sua participação no PIB nacional é de 16,2%. A do Nordeste (em crescimento) é de 13,4. Considerando as margens de erro, as regiões estão tecnicamente empatadas em sua colaboração. Será que o Sul realmente conseguiria se bancar sozinho? Porque quem banca o país, como um todo, é o Sudeste (55,4%), mas que não fala em separatismo. Para quem pensou em São Paulo, imaginem um dia sem nordestinos. A cidade iria parar. Os paulistas estão muito ocupados para fazer o que os nordestinos fazem pela cidade.

Vejam, como um exemplo o modelo pronto dos EUA, país continental, maior que o Brasil, administrado como federações, com leis distintas e voto distrital que influenciam diretamente a redução da máquina governamental e consequentemente redução de deficit público e maior facilidade de isolamento e combate à corrupção. Eles são maiores que nós, como conseguem? Nós também temos que conseguir. Unidos.

Keith Haring
Precisamos de empatia, de nos colocar no lugar do outro e tentar entender o motivo de certas atitudes. Isso vale muito no nosso dia a dia, quando os outros nos irritam. Está muito difícil para todo mundo, não só para mim. Temos que lutar juntos, pelo bem da nação. Cadê aquele hino nacional cantado à Capela em todas as partes do Brasil, aliviado pelo grito final de Pátria Amada, Brasil?

Temos que unir, ajudar, colaborar, sorrir, amar mais. Temos que separar, hostilizar, destruir e odiar menos, muito menos. E se já temos um empate técnico, agora precisamos de mais empatia. Nem que seja técnica. Mas separatismo não.