sexta-feira, 1 de julho de 2016

Sobre proteção, amor e sacudidas na cabeça. Para Liz.

O ciúme chega junto com o bebê mais novo, claro, principalmente para outro bebê de apenas dois anos, dois meses e quase vinte e dois dias, como costumamos dizer. Mas depois de um tempinho, a compreensão despercebida de que nascia ali uma parceria para toda a vida começa a tomar lugar naquele seu coraçãozinho ingênuo.

Eu tinha apenas poucas semanas de vida e chorava no berço, quando você tirou toda minha roupa e me pegou apenas segurando pelo meu pescoço – que era o que seus pequenos bracinhos conseguiam abraçar - deixando minhas perninhas balançando, quase tocando o chão frio da casa: - O neném tá chorando, mamãe! E a mãe desesperada, tentando não demonstrar para que você não se assustasse e me deixasse cair.

Depois, danada que você era, me tirava do berço à revelia da mãe, para brincar comigo na cama e me ensinar minhas primeiras palavras: ca-mi-o-ne-te. Acho que devo ter falado ‘mamãe’ primeiro, mas eu ria como gente grande, segundo relatos.

Esse coração mole aí me ensinava e me cuidava, enquanto este coração duro aqui retribuía em mordidas ferozes. Mas você era incapaz de revidar e machucar o neném. Desculpe-me por isso.

Ou não.

Os anos vão passando e a tomada de ciência do tamanho e de quem manda também uma hora chega. E então você se aproveitava disso quando começava a me inticar e me cutucar às escondidas, ou me convencer a fazer as coisas “primeiro”, pois eu acreditava que você também faria. Mas, na cara dura, você me deixava a lição implacável de nem sempre poder acreditar nas pessoas.

E quando na sua escola entravam mais cedo, você começava a descontar em mim suas angústias pré-adolescentes e me acordava quando saía para aula, com sacudidas e pancadas na cabeça. Aquilo é uma das piores lembranças que tenho da nossa infância, junto com os xingamentos horríveis porque eu não ia na bola da cortada sua ou do Tio Milico no vôlei. Claro que eu não ia. Eu sempre fui CDF, portanto esperta o bastante para saber que aquilo doeria. E eu ia embora chorando, mas ali percebia que eu ainda era uma criança e você já pensava em namorar. Danadinha.

Depois, quando novamente nos “igualamos”, fazíamos quase tudo juntas. Lembra de quando cortamos e pintamos o cabelo igualzinho para dizer para todo mundo que éramos gêmeas? E muitas pessoas acreditavam. E ficávamos conversando por horas antes de dormir, tentando entender as razões dessa vida. Guardando segredos, protegendo-nos mutuamente dos pais, dos meninos, do mundo.

Histórias são milhares, são ‘entas’ anos de irmandade, ratificando sempre esse elo que eu não tenho com mais ninguém. E apesar de sermos completamente diferentes, não há pudor, não há restrições, não há papas na língua entre nós. Nossa relação é aberta, direta, intensa e ao mesmo tempo tão easy goingrelax, divertida.


Hoje é seu aniversário e eu queria deixar registrado este amor único que tenho por você. O meu desejo mais forte é que você se cuide e tenha saúde para continuar comigo esta empreitada neste mundo louco, difícil e injusto, onde além de tudo já percebemos que somos uma para outra aquilo de mais precioso que ficou da nossa própria mãe, o que mais nos fortalece.

Feliz aniversário! Amo você!


3 comentários:

Unknown disse...

Que honra, Liz!!!
Que lindo, Lia!!!
Parabéns!

Unknown disse...

Que honra, Liz!!!
Que lindo, Lia!!!
Parabéns!

Unknown disse...


Lia Querida,

Você sabe que eu sou sua fã mas minha maior admiração pelo que você escreve é que passa, e passa mesmo, seus sentimentos da forma mais verdadeira possível!
este é o segredo de um grande escritor que um dia todos vão aplaudir!