terça-feira, 1 de setembro de 2015

quarta-feira, 18 de março de 2015

Crise Existencial

Eu sou branca. Bem branca. Meio avermelhada. Na verdade sou bronzeada, precisava ver como eu ficava lá por agosto, quando morava em Curitiba! Eu não sou elite. Minha renda é apenas digna (apenas, porque não tenho nenhuma moleza não) lembrando que 40% vão para o Estado. Eu não tenho o retorno do Estado. Eu tenho pós-graduação há pouco tempo, quando conquistei certa tranquilidade financeira - (eu paguei por um bom curso) -  depois de trabalhar muito e sempre, desde os 17 anos. Meus pais têm segundo grau. Eu sou empresária. Eu sou artista.
Eu sou totalmente contra intervenção militar (acho que deveríamos é excluir a palavra "militar" da nossa vida) e qualquer volta de qualquer ditadura. Ouvi histórias inclusive da boca da minha mãe. Esta história ainda está viva. E não pode morrer nem se calar.
Sou contra o impeachment, se a Presidenta não sabia de nada. Se ela sabia, aí seria crime e eu seria a favor.
Acredito que o desenvolvimento deve chegar a todos e isso significa educação. Eu não vejo chegando a educação. Eu não vejo democracia (povo governando e não apenas falando o que pensa). Eu vejo populismo. A pátria é tudo, menos educadora.
Eu não defendo a Dilma e muito menos o Lula. Eu não defendi o FHC quando ele estava errado e muito menos o Aécio. Eu não tenho intenção nem como fugir pra Miami. Eu não sou insensível aos mendigos dormindo sob a marquise da Presidente Vargas.
Eu acho que nada vem de graça, nem o pão nem a cachaça. Eu sou trabalhadora. Eu não sou elite branca. Eu não sou preto favelado. Eu não sou coxinha. Eu não sou de esquerda. Eu não sou de direita. Eu não sou reaça. Eu não sou comunista. Eu não sou capitalista. Eu não sou cega. Eu não sou ladra. Eu não sou burra.
Eu não sei de nada. Eu apenas quero que parem de mentir e roubar o dinheiro de todos, que pode ser qualquer um, todos acima ou NDA. Inclusive eu. Aqui ou em qualquer lugar.
Mas quem sou eu e que país é este mesmo?


terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Coincidências e paixões

Era dia primeiro de janeiro de 2014, mais de um metro de neve lá fora, os rapazes esquiando e nós tínhamos ficado em afazeres mais sossegados, na recuperação da ressaca de réveillon. Conversávamos filosoficamente ao redor da mesa alta, em cozinha estilo americana, num chateau que devia datar de 1800 mais ou menos. As meninas têm essa mania de entrar mais fundo nos assuntos. Falamos de filhos, dos que já existiam, da vontade de tê-los ou não. De como conhecemos nossos maridos e o que fizemos para conquistá-los e permanecer com eles. Afinal eu casei com um de outra cidade. Uma das meninas escolheu um de outro país e essas coisas mudam nosso mundo.
Eu havia passado a tarde dormindo. Passei muito mal da ressaca misturada ao jet lag, altitude e snowboard. Viajamos por quase 24 horas para chegar nesse vilarejo de menos de 400 pessoas nos alpes suíços. Chegamos no 30 à noite, esquiamos o dia todo no 31. No primeiro meu corpo deu os sinais. Sim, estou ficando velha. Este ano faço 39, meodeos, ano que vem (2015) é 40. 40!! QUARENTA!! 
Tudo, portanto, para mim já tinha um sentido filosófico. Passar o ano novo na Suíça não era nem sonho, jamais tinha imaginado essa possibilidade. Veio como uma realidade doce, simplesmente.
Foi quando entramos num assunto suave e sincero, mas que para mim caiu como uma bomba: o que te motiva? O que faz teus olhos brilharem? Qual é tua paixão?
Minha amiga falava com os dela em diamante, quando me contava que quando ela corria (é maratonista) esquecia do mundo de uma forma impressionante. Ela realmente precisava daqueles momentos sozinha em atividade para se recompor e enfrentar a vida diária com dois filhos pequenos. Eu também corro, adoro! Mas é um misto de prazer com necessidade, busca pela saúde, terapia sim. Mas meus olhos não brilham daquele jeito. Ela também falou de seu violino com os mesmos olhos brilhantes da corrida. Pensei no marido, que é escalador. Ele tem uma paixão pela montanha, pelo isolamento e, claro, pela escalada, que qualquer outra mulher mais louca e mais frágil poderia morrer de ciúmes. Ele precisa desses momentos para ter energia para os demais deveres. E eu entendo. Construímos nossa relação com base na individualidade. Somos um. Mas também somos dois e cada um tem suas preferências, suas escolhas e sua vida própria. Acho que por isso estamos há 12 anos juntos. 
E então me veio um desespero. Pelo que brilham meus olhos? Eu não tenho uma fuga que me faça sentir isso que eles sentem!! O que há de errado comigo?? Adoro cinema, mas não fico em filas de pré ou estreias. Nem vou nos fins de semana, porque me irrito com as pessoas mal educadas que falam nas salas como se fosse a da sua casa. Gosto de ler, mas sinto uma mistura de de prazer com disciplina. Não chega a ser uma paixão. 
O voltei ao Brasil atormentada com essa questão. Vou fazer 40 anos e ainda não descobri qual é minha paixão.
Vida que segue.
Há uns dois anos mais ou menos, comecei a pesquisar uma academia de sapateado. Fiz quando criança e lembro que gostava muito. Era algo que queria voltar a fazer. Saúde física e mental, que é a dança, sempre gostei, mas tinha que ser sapateado. Fiquei esses dois anos em busca do conforto de uma escola que fosse perto de casa ou do trabalho ou entre os dois. E nada. horários não batiam, aulas fraquinhas com duas ou três pessoas. Nada estimulante.
Em meados do ano, rendi-me a uma academia em Ipanema. Fora de mão, como pensei a princípio, mas pelo menos tem metrô. É especializada em sapateado norte-americano, portanto exatamente o que eu buscava e me matriculei. Já na primeira aula, apesar de me sentir um pouco perdida (27 anos separam da minha primeira vez), me joguei e adorei! E fui adorando mais e mais, saía das aulas feliz, com uma alegria gostosa e alma lavada. Topei participar da apresentação de fim de ano. Ali já percebera que tinha descoberto algo que realmente gostava de fazer. Seria esse o meu hobby do brilho nos olhos? Sim. No início de dezembro, no primeiro ensaio geral do espetáculo eu me emocionei de uma forma assustadora. Já na primeira coreografia (sem música, somente o som dos sapatos) me arrepiei e na medida que as apresentações foram evoluindo, meus olhos tentavam transbordar o contentamento e tive que segurar as lágrimas resultantes de toda aquela energia. Formação de Egrégora: muitas pessoas dançando, sorrindo, suando. Eu saí diferente daquele ensaio. Fui refletindo e me segurando no caminho até em casa e quando chego, o marido pergunta como foi e se assusta quando me debulho em lágrimas. Não se preocupe! Estou chorando de emoção! Ele, sem entender nada, ficou ouvindo a minha história - entre soluços e lenços de papel - sobre a conversa nos alpes, a busca pelo que realmente importa e nos faz bem, tudo aquilo que não tem preço. Deixei minha emoção aflorar enquanto avaliava a benção de conseguir uma resposta no mesmo ano em que me dei conta da pergunta. E prestes a completar 40 anos. Uma descoberta boba? Pode ser. Mas o bem que sinto nas minhas aulas de sapateado é o bem que quero levar a todos que amo. Não preciso nem dizer que a apresentação foi uma das coisas mais legais que fiz na vida e no final chorei feliz.
40 anos. Tudo é reflexão. E tudo é agradecimento. Só quero ser feliz, fazer coisas que eu gosto e investir nisso. Quero as pessoas que amo felizes e também vou investir nisso. Todo o resto é besteira e corrupção.