quarta-feira, 8 de novembro de 2017

A palavra é

Da manga rosa, quero o gosto e o sumo. Quero ensopado de frango, sorvete, morango, suspiro, pudim e manjar. No café, pão salgado, pão de queijo, pão doce recheado, caramelado de açúcar. Eu quero um ou mais um.
Compartilhar a vida, não pôr a mesa, nem dar lugar. Pôr os pratos no chão e o chão está posto. Linguiças para tira-gosto, uca, açúcar, cumbuca de gelo, limão e botar mais água no feijão. Sempre.
Esse oportet ut vivas, non vivere ut edas(1). Comer para viver, mas para viver, muito mais. Quero ervas que curam e acalmam, que aliviam e temperam.
Não só alimento, quero almo. Não só comida, mas, diversão e arte. Quero saída para qualquer parte.
Quero um lugar de mato verde para plantar e para colher. Uma casinha branca de varanda, um quintal e uma janela para ver o sol nascer, onde eu possa plantar meus amigos, meus discos e livros e nada mais!
Quero dormir um sono tranquilo, sem temer os males ignorados pelo sonho acompanhado do sono da morte. Não basta apenas ser ou não ser, existir, sobreviver. Girar a mó todos os dias, praticar o contrário da prestidigitação. Por enquanto, não morrer.
Muito mais que alimentos usados para subsistência, suprimentos e provisão, quero o silêncio das línguas cansadas. Eu só quero chocolate e o café proibido pelo grande irmão. Quero minha dose de soma diária para aguentar a condição. Quero a música que une as pessoas.
Um homem de bom juízo pede ao céu, em oração, mente sana e corpo são.
Quero um banho de espuma, um dolce far niente, sem culpa nenhuma.
Quero tudo que alimenta, além da porção distinta da matéria, a parte incorpórea do ser.
Corpo, alma e vida.
Nada singular, pluralia tantum(2).
Víveres.



(1)Comer para viver e não viver para comer.
(2) Expressão tradicional da gramática latina que significa “apenas plurais” (afazeres, parabéns, arredores)

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