terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

O que fiz ontem de manhã

Acordei com o som dos pássaros. Como todos os dias ultimamente. Tem um que canta pertinho da janela. Às vezes acho que é um bem-te-vi e outras, que ele não canta “bem-te-viiii”.  Mas é a mesma “voz”. Não gosto muito de acordar.
Moro no interior desde o solstício. Vida mais calma tem essa música urbana diferente, de rádio de elevador, mas só o repertório bom, que acalma. De repente estrondeado pelo carro de som do mercadinho que passa todos os dias. Ou do caminhão de gás.
Não acordar com despertador é uma conquista. Cada um com seu relógio biológico. Acordar aos poucos faz a gente engrenar aos poucos. Ainda tinha que meditar. Um exercício e um trato que fiz comigo mesma, na busca pelo relaxamento consciente, alternativa a remédios contra insônia. Porque fazer algo qualquer dia de manhã requer que se tenha dormido. E, cada vez mais, parece que dormir é um luxo. Lembrei-me das pessoas viciadas em remédios tarja-preta. E dos que têm problemas para dormir. Quem dorme bem, afinal? Eu durmo. É uma busca constante na minha vida, dormir é muito necessário. Sonhar é bônus. Fiquei a lembrar do meu sonho. Estava em algum lugar com minha irmã e não sei mais quem, pessoas íntimas no momento, mas que não tenho a menor ideia de quem sejam. De repente, fugimos numa Kombi azul, estilo “Pequena Miss Sunshine” e seguimos pelo elevado. Veja só, o elevado nem existe mais. E então, passando na frente da Candelária, caiu um satélite do céu em cima de um caminhão. Pensei por que sonhei isso. E me diverti com a reposta: não há explicação. Eu sonho quase sempre. E meus sonhos são bem birutas. Eu adoro.
Continuei deitada, pensando em levantar. Não gosto muito de acordar. Pode parecer depressivo – talvez seja um pouco –, enfim, não significa que eu queira morrer. Eu apenas não gosto muito do ato de acordar e levantar da cama.  Por outro lado, eu adoro ir para a cama. Deitar e relaxar. Acordar é levantar e agir. “Agir para quem planeja, pois quem se deixa levar apenas reage” – ouvi isso num seriado a que assisto. Verdade. Pensei em meus planos para o dia, e que preciso agir. O mundo já anda reativo demais. A reforma. Acabei de me mudar e obras são necessárias. A conquista por não ter despertador – e ter tempo – obriga a gente a aprender a fazer outras coisas, já que não pagaremos alguém para tais. Bom modo de se aproveitar da crise, não está fácil. Pintura de parede e faxina, por exemplo. Tenho que dar mais uma demão na cozinha. Aprendi até a passar massa corrida. E que vontade que dá de comer, que textura!, que maciez!, que brancura! Pena que é tóxica, senão dava uma colherada para experimentar. Gosto mais de passar do que de lixar. Esse é trabalhinho sujo. Mas lixei também. Depois de meia hora consegui duas bolhas nos dedinhos. E a dor no braço me lembrou da vacina antitetânica que havia tomado, depois de me cortar com um preguinho enferrujado. Vida na cidade do interior tem dessas coisas. Tem mais bicho. E casa dá mais trabalho do que apartamento. Você pode se cortar ou ser mordido. Tem bichos peçonhentos. Vacina antitetânica é importante. Nossa! Acordar e lembrar os sintomas do tétano é lamentável. Volto a ouvir o som do bem-te-vi. Agora parece que ele canta algo como ‘tô no jogo, tô no jogo’. Rio sozinha. Muito melhor que pensar nos espasmos musculares do tétano. Puxa, ainda tem que pintar o teto da cozinha. Pintar teto é castigo. O corpo-humano não foi feito para pintar tetos. Chuva? Sim, som da chuva caindo, que delícia!

Choveu muito ontem de manhã. Então eu virei para o lado e dormi mais um pouquinho. Não gosto muito de acordar.

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