terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

De onde vem tanta gente?

Enquanto eu morava em Curitiba, eu tinha uma teoria sobre o trânsito de pedestres, e por diversas vezes eu mesma a testei e, juro, ela funcionava. Era o seguinte: quando você está andando na rua e tem uma pessoa vindo em sua direção, se você não cruzar o olhar com o dela, é (era) certo que vocês não irão (iriam) se chocar. No entanto, basta você fixar o olhar na pessoa e ela perceber isso, que inevitavelmente vocês irão se esbarrar. Deve ser uma espécie de atração que os olhares provocam. De qualquer forma sempre funcionou... até eu me mudar para o Rio, principalmente agora que trabalho na Presidente Vargas. E agora que acabou o carnaval. E começaram as aulas. E toda a zorra de novo.
Aqui tem tanta gente, mas tanta gente andando nas ruas que tentei fundamentar minha teoria por diversas vezes, e o que consegui foram bons esbarrões. Mas explico. Quanto ao olhar ainda funciona! O que não funciona mais é o 'não-olhar'. Aqui (ou em qualquer outra metrópole que seja) simplesmente não adianta. Você pode não olhar, se encolher na sua insignificância de um mero pedestre no caos da selva de pedra, mas vai esbarrar de qualquer jeito! Encolher-se até requer muita prática e inclusive ajuda a manter a postura. Quanto mais ereto e com os braços mais perto do corpo menos chance do choque. No entanto até pegar o jeito, continua a trombada, o resvalo, o cutuco, o toque mais sutil... As pessoas parecem carros choques se enfrentando. Pedido de desculpa? Não dá nem para pensar, se fosse andar na rua no ápice do horário de almoço, não haveria como conversar com um amigo. Você andaria e a cada passo pediria desculpas: - Sabe aquele - Desculpa! - livro - Desculpa! - que te falei -Desculpa! - que - Desculpa! - eu queria - Desculpa! ...... imaginaram? Então é melhor passar batido mesmo, não no sentido literal, pois passar batido já remete a uma pancada grossa e bem dada! Não me entendam mal, sou imigrante nesta cidade e não desejo causar conflitos. Inclusive estou é tentando evitá-los em todos os sentidos!! Mas a semântica me confunde nessas horas!!
De qualquer forma, tendo a minha teoria sido refutada, confesso que aprendi (mais uma vez) que levamos anos para descobrir certas coisas.
De repente até vale a afirmação de que uma coisa pode funcionar em determinada circunstância. Mas a troca de olhares... inevitável chamariz do choque, esta ainda é válida.
Sem falar nas pessoas que vêm do lado, de trás. Aí teriam que inventar um suporte com pisca-pisca e luz de freio. Saindo do metrô, horário do rush, melhor é seguir em linha reta sempre avante. Se resolver dar uma viradinha à esquerda, ligue o pisca, senão a colisão traseira acontecerá, ou em seu lugar a buzina da pessoa de trás que teve que frear desavisadamente. É, no ritmo que nós estamos indo, daqui a pouco serão aplicadas as mesmas leis de trânsito para pedestres, vias de mão única e lugares próprios para estacionar, caso precise mexer na bolsa ou atender o celular. Porque simplesmente parar de uma hora para outra, sem acionar a luz de freio, renderá uma multa!
Portanto ao andar dentre uma multidão que vai e vem, sempre evitem o olhar, encolham os braços, ajustem os ombros, respirem fundo e sigam!
E nos consolemos que, de qualquer forma, para nós brasileiros, o toque é importante!
Mas isso é uma outra história...

Um comentário:

Unknown disse...

Isso é irritante...O esbarrão deveria vir com o "desculpa" subentendido...

Pena que em certas vezes, o esbarrão é intencional!

Brasileiro definitivamente não tem senso de "espaço pessoal".

Beijão!